Entenda a Colelitíase e a Colecistectomia Videolaparoscópica
O que é Colelitíase?
Colelitíase é o termo médico para a presença de cálculos (pedras) dentro da vesícula biliar. A vesícula é um pequeno órgão localizado abaixo do fígado, responsável por armazenar e concentrar a bile, um líquido produzido pelo fígado que auxilia na digestão de gorduras. As pedras se formam quando há um desequilíbrio na composição da bile, levando à cristalização de substâncias como colesterol e bilirrubina.
Muitas pessoas com colelitíase podem não apresentar sintomas por anos (colelitíase assintomática). No entanto, quando um cálculo bloqueia a saída da vesícula ou um dos ductos biliares, podem surgir sintomas como:
- Dor intensa e repentina no lado superior direito do abdômen, que pode irradiar para as costas ou ombro direito (cólica biliar).
- Náuseas e vômitos.
- Intolerância a alimentos gordurosos.
- Em alguns casos, pode ocorrer icterícia (pele e olhos amarelados) se houver obstrução do ducto biliar comum.
Quais os Riscos de Não Realizar o Tratamento da Colelitíase Sintomática?
Embora nem todos os casos de colelitíase causem sintomas, ignorar a condição quando sintomática ou em situações de risco pode levar a complicações sérias:
- Colecistite Aguda: Inflamação da vesícula biliar causada pela obstrução persistente do ducto cístico por um cálculo. Causa dor intensa, febre e pode levar à infecção grave ou até mesmo à ruptura da vesícula, uma emergência médica.
- Coledocolitíase: Quando um cálculo migra da vesícula para o ducto biliar comum, bloqueando o fluxo da bile para o intestino delgado. Isso pode causar icterícia, dor intensa e aumentar o risco de infecção biliar (colangite).
- Pancreatite Biliar: Um cálculo que se desloca e bloqueia a junção do ducto biliar comum com o ducto pancreático pode levar à inflamação do pâncreas (pancreatite), uma condição grave e potencialmente fatal.
- Colangite: Infecção grave dos ductos biliares, geralmente causada por obstrução por cálculos. É uma emergência médica com risco de vida.
- Câncer de Vesícula Biliar: Embora raro, a colelitíase de longa data é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de câncer de vesícula.
Tratamento Cirúrgico: A Colecistectomia
Colecistectomia Videolaparoscópica
A colecistectomia videolaparoscópica é a técnica minimamente invasiva padrão para remover a vesícula biliar doente. Ao contrário da cirurgia aberta tradicional, que requer uma grande incisão abdominal, a videolaparoscopia utiliza pequenas incisões (geralmente de 0,5 a 1,5 cm). Através dessas incisões, o cirurgião insere:
- Uma pequena câmera de vídeo (laparoscópio) que transmite imagens ampliadas do interior do abdômen para um monitor.
- Instrumentos cirúrgicos delicados para manipular e remover a vesícula biliar.
O cirurgião visualiza o interior do abdômen no monitor e realiza a remoção da vesícula com precisão, causando menos dano aos tecidos circundantes.
A Possibilidade da Cirurgia Robótica
Em casos selecionados, a colecistectomia também pode ser realizada com o auxílio de um sistema robótico. Esta é a forma mais avançada de cirurgia minimamente invasiva, onde o cirurgião controla braços robóticos com instrumentos de alta precisão. A plataforma robótica oferece visão 3D ampliada e maior liberdade de movimentos, o que pode ser vantajoso em casos mais complexos ou de difícil acesso, mantendo os benefícios de uma recuperação rápida e menos dor pós-operatória.
Pós-operatório e Recuperação da Colecistectomia Minimamente Invasiva
A permanência hospitalar costuma ser de aproximadamente 1 dia, e o paciente geralmente pode iniciar uma alimentação habitual ao chegar no quarto após o procedimento.
A recuperação após a sua cirurgia (seja videolaparoscópica ou robótica) geralmente é muito rápida, e a maioria dos pacientes consegue retornar às suas atividades normais em poucos dias. Para que você tenha o mínimo de desconforto e sua recuperação ocorra sem complicações, é importante seguir as orientações abaixo:
1. Dieta:
Não é necessário seguir uma dieta especial restritiva. Você pode comer e beber o que sentir vontade, incluindo alimentos sólidos. Uma boa recomendação para este período, e que pode ser benéfica para a vida toda, é evitar o consumo excessivo de gorduras e frituras. Se sentir náuseas ou tiver vômitos no primeiro dia após a cirurgia (o que pode acontecer devido aos medicamentos da anestesia), ingira apenas líquidos em pequenas quantidades. Esses sintomas costumam desaparecer em 1 ou 2 dias conforme o corpo elimina os medicamentos. Se persistirem, entre em contato com seu médico. Beba bastante água e procure se alimentar próximo dos seus horários habituais, evitando alimentos muito gordurosos, frituras e doces nas primeiras semanas.
2. Dor:
É comum sentir dor na região operada, controlada com os analgésicos prescritos. A dor no ombro também é frequente após cirurgias por videolaparoscopia. Ela acontece devido a uma irritação de um nervo e não é um problema no ombro em si. Geralmente melhora em poucas horas ou dias. Se a dor (seja na região operada ou no ombro) for intensa, tome o analgésico prescrito pelo seu médico. Em caso de dor abdominal intensa que não melhora, procure seu médico ou um pronto atendimento.
3. Cuidados com os Cortes (Feridas Operatórias):
Os pequenos cortes (furinhos) da cirurgia serão fechados com pontos e cobertos com curativos. É normal que fiquem um pouco arroxeados (hematoma) ou que haja um pequeno sangramento. Não se preocupe, isso faz parte do processo de cicatrização. Você pode tomar banho completo e molhar os curativos. Durante o banho, limpe delicadamente os cortes com água e sabonete. Após o banho, seque a região com uma toalha limpa sem esfregar. Troque o curativo pelo menos uma vez ao dia, ou sempre que estiver sujo ou molhado. Para cortes pequenos de videocirurgia, você pode usar band-aid. Incisões maiores podem precisar de curativos com gaze e micropore. Fique atento(a) a sinais de infecção nos cortes, como vermelhidão intensa, inchaço, pus ou cheiro forte, e avise seu médico se notar algo assim.
4. Movimentação e Atividade Física:
Evite ficar deitado(a) ou sentado(a) por períodos muito longos. Desde o primeiro dia após a cirurgia, você pode e deve caminhar. Andar ajuda na sua recuperação e circulação. Você pode andar bastante, subir escadas, abaixar e se levantar. Evite esforços físicos maiores no início. O maior limitador para os esforços é a dor: se sentir dor ao fazer algo, diminua a intensidade. Assim que se sentir confortável para se movimentar rapidamente e com pouca dor, você poderá dirigir (geralmente a partir do segundo dia após retornar para casa, especialmente se o carro tiver direção elétrica ou hidráulica). Você poderá levantar até 20kg nos primeiros 20 dias. Após esse período, as limitações para atividades físicas são mínimas.
5. Exercícios Respiratórios:
Respire fundo 3 vezes a cada hora. Isso ajuda a expandir bem os seus pulmões e a prevenir complicações como febre ou pneumonia após a cirurgia.
6. Medicação:
Caso não tenha recebido a receita das medicações para usar em casa após a alta hospitalar, entre em contato com a equipe médica o quanto antes.
7. Quando Procurar Ajuda Médica:
Estas são informações gerais sobre o pós-operatório. Em caso de dúvidas específicas sobre o seu caso ou se notar qualquer sinal de complicação, como secreção nos cortes, vermelhidão que se espalha, dor abdominal intensa que não melhora com a medicação, febre (temperatura acima de $38^{\circ}$C), vômitos persistentes, inchaço abdominal significativo ou outras situações novas e preocupantes, avise a clínica ou procure um pronto atendimento levando os documentos da sua cirurgia.
Quais os Riscos da Colecistectomia Minimamente Invasiva?
A colecistectomia minimamente invasiva (videolaparoscópica ou robótica) é considerada um procedimento seguro e eficaz, com uma taxa de complicações geralmente baixa. No entanto, como toda cirurgia, existem alguns riscos potenciais, que incluem:
- Sangramento: Pode ocorrer sangramento durante ou após a cirurgia, embora geralmente seja pequeno. Em casos raros, pode ser necessária uma transfusão sanguínea.
- Infecção: Infecção no local das incisões ou dentro do abdômen é possível, mas geralmente tratável com antibióticos.
- Lesão de Ductos Biliares: Uma complicação rara, mas grave, é a lesão dos ductos biliares durante a remoção da vesícula. Se ocorrer, pode ser necessário tratamento adicional, incluindo cirurgia de reparo.
- Lesão de Órgãos Vizinhos: Raramente, pode haver lesão de outros órgãos abdominais, como o intestino ou vasos sanguíneos.
- Coledocolitíase Residual: Em alguns casos, pequenos cálculos podem permanecer nos ductos biliares após a remoção da vesícula, podendo exigir tratamento adicional (geralmente por endoscopia).
- Hérnia Incisional: Pode ocorrer uma hérnia no local de uma das incisões, embora seja mais comum em incisões maiores da cirurgia aberta.
- Dor Pós-Operatória Persistente: Embora a dor seja esperada após a cirurgia, em alguns casos raros, pode persistir por um período mais longo.
- Complicações Anestésicas: Reações adversas à anestesia são possíveis, mas raras.
- Necessidade de Conversão para Cirurgia Aberta: Em algumas situações complexas ou devido a dificuldades técnicas encontradas durante a cirurgia, pode ser necessário converter para a cirurgia aberta tradicional com uma incisão maior.
Conclusão
É importante discutir esses riscos com o Dr. Flávio para entender melhor a sua situação individual e tirar todas as suas dúvidas antes da cirurgia. Lembre-se que o objetivo da colecistectomia minimamente invasiva é aliviar seus sintomas, prevenir complicações futuras e melhorar sua qualidade de vida. Os benefícios da cirurgia geralmente superam os riscos potenciais. Se você tiver mais alguma dúvida, não hesite em perguntar!
Dr. Flávio Silverio de Almeida Ponce
CRM/SC 17572 | RQE Cirurgia Geral 11220